quarta-feira, 31 de julho de 2013

A razoabilidade da mentira

" Como elenca Bauman:

– Podemos acreditar que o crescimento económico é a única maneira de lidar com os desafios do nosso tempo e resolver todos os problemas que a coabitação humana gera;
– Que o crescimento perpétuo do consumo ou o acelerar da rotatividade de novos objectos de consumo é a única, principal e mais efectiva forma de atingir a busca de felicidade humana;
– Que a desigualdade social é natural e que o ajustar da nossa vida humana a essa condição nos beneficia a todos, enquanto que tentar alterar os seus pressupostos é algo de negativo;
– Que a rivalidade (na sua dupla face do louvar dos ganhadores e a exclusão/degredo dos perdedores) é a base da justiça, sendo simultâneamente uma necessidade e condição suficiente de justiça social e reprodução da ordem social.
Mas acreditaremos nisso porque julgamos que podemos ter alguma hipótese de escapar dos 99% e ser recebidos de braços abertos entre os 1% que lucram com essas decisões?

Ou porque temos uma crença inabalável em que é mesmo assim, que o mercado (que somos nós todos também) nunca pode errar e, por isso, como o sucesso das medidas é óbvio não necessitam de ser provadas, que basta acreditar?

Ou porque nunca questionámos, mesmo: será que “eles” (seja quem “eles” sejam) realmente sabem o que fazem ou acreditam apenas que estão certos?
Se nos sentirmos bem num mundo onde podemos desprezar a cooperação, o mutualismo, a partilha, a confiança recíproca, o reconhecimento e respeito, então não podemos chamar mentiroso a quem nos oferece precisamente o que pretendemos, um mundo onde a salvação de 1% está garantida e onde o sonho da nossa vida é lá chegar e deixar pelo caminho todos quantos pudermos. Mas muito provavelmente um mundo assim irá rapidamente autodestruir-se pondo fim a esses “sonhos”.

Para lá das ideologias e da sua razoabilidade da mentira há (felizmente) a liberdade e a esperança. "

No Público

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