sábado, 17 de abril de 2010

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Porque não tive UMA, mas DUAS




Poema à Mãe

No mais fundo de ti,
eu sei que te traí, mãe.

Tudo porque já não sou
o retrato adormecido
no fundo dos teus olhos.

Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais.

Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.

Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura.

Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos.

Mas tu esqueceste muita coisa;
esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!

Olha - queres ouvir-me? -
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;

ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;

ainda oiço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
no meio de um laranjal...

Mas - tu sabes - a noite é enorme,
e todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber.

Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas.

Boa noite. Eu vou com as aves.


Eugénio de Andrade

terça-feira, 13 de abril de 2010

José Régio dito por Paulo Gracindo


Ventura Porfírio, Poeta de Deus e do Diabo, 1958
Óleo sobre tela, 138,5 x 108 cm
Câmara Municipal de Portalegre, Casa-Museu José Régio


Como sou preguiçoso, agradeço ao Romeu o trabalho que me tirou.
Se quiser ouvir também a versão Bethania, pode fazê-lo aquí.